quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Séries dahora - Twin Peaks: O mundo maravilhoso de David Lynch




A série Twin Peaks teve dois grandes momentos
durante a sua curta duração.
1ª Temporada é um verdadeiro mar de criatividade e mistérios,
com inserção de elementos espirituais
ao longo da investigação do assassinato de Laura Palmer.
Durante esse período, David Lynch e Mark Frost
estiveram plenamente envolvidos com o show,
garantindo a qualidade do produto televisionado
e explicando o imenso sucesso que a série
teve nos Estados Unidos e no mundo
ao longo daquele ano.
Já a 2ª Temporada é a que recebeu maior número
de críticas negativas, e não é sem motivo.
Primeiro, porque trata-se de um longo serial,
com 22 episódios,
sendo que apenas os 9 primeiros e os três últimos episódios
fazem jus à fama e à qualidade esperada da série.
Apesar do fraco desenvolvimento do miolo da 2ª Temporada,
seu término foi muito bom, abrindo uma série de portas
para um terceiro serial,
que só viria acontecer 25 anos depois, em The Return.
Como uma forma de “ajustar” e “explicar”
o máximo de coisas possíveis da série,
Lynch e Frost produziram o longa
Os Últimos Dias de Laura Palmer,
que estreou em 16 de maio de 1992
no Festival de Cannes
e recebeu vaias de praticamente toda a plateia.
Seguiu-se aí uma imensa quantidade de críticas negativas
à medida que o filme estreava ao redor do mundo e,
para piorar a situação, o já esperado fracasso
de bilheteria veio a reboque.
Anos depois, como acontece com boa parte
dos “filmes malditos” de bons diretores,
Os Últimos Dias de Laura Palmer ganhou a exagerada
e delirante tag de “obra-prima”, tornando-se um cult
entre os novos espectadores de Twin Peaks.
"Te vejo em 25 anos", diz Laura Palmer
ao agente Dale Cooper,
no último episódio da segunda temporada de Twin Peaks,
exibido em 10 de junho de 1991.

Na época, tal frase soou como provocação.

Ninguém poderia imaginar que uma série
retornaria para uma nova temporada,
com os mesmos personagens,
25 anos após seu cancelamento
ainda mais envolta em inúmeras críticas
referentes à queda de qualidade e também de audiência.
Pois, contra todos os prognósticos, Twin Peaks voltou.
A começar pelas constatações óbvias:
The Return fica pouquíssimo tempo em Twin Peaks,
o que valoriza cada instante em que a bucólica cidade
e seus habitantes são retratados.
Há um inevitável clima de nostalgia
ao rever locais e personagens tão marcantes,
aliado à inevitável curiosidade em saber
o que se passou com eles nestes 25 anos de espera.
Entretanto, ao contrário do que tantos revivals
têm investido, Lynch entrega
em conta-gotas o gostinho do reencontro
o que, no fim das contas, o valoriza ainda mais.
Personagens marcantes,
como Audrey (Sherylin Fenn, ótima!),
apenas reaparecem já no terço final da temporada,
assim como vários outros ganham breves flashes.
A história, nesta temporada, não está focada neles
ou ao menos não na maioria deles.
É como se Lynch os visitasse de forma a trazer
um certo conforto emocional,
usando-os também para compôr o imenso
quebra-cabeças narrativo que é The Return,
com cerca de 200 personagens e novos cenários
tão emblemáticos que, à sua maneira,
também se tornam personagens.
Que o diga o The Roadhouse
e a imensa procissão de cantores indie
que lá se apresentam.
Com veteranos transformados em coadjuvantes,
The Return investe firme em um punhado
de caras novas, algumas bem conhecidas.
Se Naomi Watts e Laura Dern ganham uma boa relevância,
a nova temporada desfila Tim Roth,
Jennifer Jason  Leigh, Amanda Seyfried, Michael Cera,
Ashley Judd, Matthew Lillard
e tantos outros em participações mínimas que,
na maioria dos casos,
serve para quebrar a expectativa.
Esta, por sinal, é uma constante na nova temporada:
Lynch utiliza com maestria o uso do silêncio e do som
de forma a provocar tensão a partir do nada,
ou de um ato absolutamente trivial
como o simples varrer do chão.
Soma-se a isto o dom que o diretor
possui em criar personagens estranhos e marcantes,
e o resultado é uma mise-en-scénehipnótica
e extremamente envolvente, mesmo que,
a bem da verdade, nada ou muito pouco ocorra de fato.
Bem-vindo ao modo David Lynch em contar uma história,
sempre repleto de ambiguidades e simbolismos.
Absolutamente sensorial e por vezes abstrata,
Twin Peaks: The Return é uma série onde o ouvir
e o sentir são ainda mais importantes que o compreender,
de forma a constantemente instigar o espectador
pelo que está por vir.
Além disto, deixa a sensação de que tudo
o que ocorreu anteriormente serviu apenas de preâmbulo
para o que acontece aqui,
tamanha a grandiosidade e a competência entregues.
Por mais que seu desfecho siga um caminho
um tanto quanto questionável, a condução
até o mesmo é absolutamente primorosa,
respeitando a cartilha narrativa
muito particular de David Lynch.
Uma temporada excelente,
feita para todos os que apreciam
o bom e velho cinema, não o palatável
entregue dia após dia por Hollywood,
mas o que incomoda e faz pensar.

“Estamos no futuro ou estamos no passado?”

OBS:assistir player THEVID as 3 temporadas

Nenhum comentário:

Arquivo do blog

Quem sou eu

Minha foto
São José dos Campos, São Paulo, Brazil
"Se não vives para servir, não serves para viver."