quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Gênio do marketing de luta, destemido nos ringues, Macho Camacho deixará saudade.

Um dos mais controversos, carismáticos e talentosos boxeadores de todos os tempos alcança um fim trágico.
O portorriquenho Héctor “Macho” Camacho foi vítima de um ataque, quando recebeu um tiro no rosto em Bayamón, sua cidade natal, perto de San Juan, capital de Porto Rico.
O ex-lutador foi internado em estado gravíssimo no Centro Medico Trauma Center.
estava no banco do carona de um carro no momento do ataque.
Adrian Mojica Moreno, o motorista, um amigo de infância do lutador, morreu na hora, também vítima de tiros.
O projétil que vitimou Camacho entrou pelo queixo, atravessou a cabeça e se alojou no ombro do ex-pugilista.
Os médicos que cuidavam de Héctor chegaram a ter esperanças na recuperação do ex-atleta depois que ele apresentou atividade cerebral intermitente.
Porém, um ataque cardíaco pôs fim às esperanças.
Na manhã de quinta-feira, 22 de novembro de 2012, dia de Ação de Graças, o médico Ernesto Torres declarou a morte cerebral do ídolo.
Em fevereiro do ano passado, Camacho já sofrera outro atentado a tiros.
Vítima de uma tentativa de assalto ao seu carro, o ex-lutador tentou arrancar e levou três tiros.
“Estou vivo por milagre”, disse Camacho à época.




A morte de Héctor Luis Camacho acontece numa época que o boxe profissional sofre com a falta de ídolos carismáticos.
“Macho” foi um dos grandes neste aspecto.
O camarada, que possuía um dos apelidos mais bacanas da história do esporte, ostentava ainda um engraçado rabinho “pega-rapaz” na testa.
O cabelo era parte do ornamento de Macho Camacho.
Normalmente ele entrava no ringue fantasiado, além de ter sido um dos precursores das bermudas de cores espalhafatosas e cheias de franjas – ou mullets, como queiram.
Até com uma espécie de saiote o sujeito já lutou.
E ele ainda sabia provocar os adversários e seus fãs.
Apesar de todo o lado caricato, não pense você que Camacho era apenas uma versão “anos 90” de Tom Lawlor ou Jason Miller, lutadores mais engraçados do que talentosos.
Macho Camacho era bom.
Muito bom.
Em mais de 30 anos de carreira, fez 88 lutas e só perdeu seis, quatro para monstros sagrados do esporte em seus auges e duas já depois dos 40 anos.
Héctor era conhecido pelo estilo destemido nos ringues.
Dono de ótimo jogo de pernas, atacava os adversários sempre com muita pressão e os atingia com marretas em forma de punhos.
Seja dentro ou fora do ringue, não há até hoje um lutador que tenha entendido tão bem os conceitos de marketing de luta e que tenha sido um vendedor tão bom de seus combates.
Para azar dele, o auge de sua carreira aconteceu na era pré-pay-per-view.
Vivesse nos tempos de vendas de pacotes de luta e Camacho teria morrido multimilionário.
Don King, controverso e importante promotor de boxe:
“Quando eu tinha uma luta, ele só perguntava onde e quando.Ele adorava lutar, era totalmente destemido. Quanto maior a luta, mais ele amava o desafio.”
A lista de oponentes da carreira de Camacho é um verdadeiro passeio ao Hall da Fama do Boxe. Poucos podem se orgulhar de ter enfrentado gente do naipe de Sugar Ray Leonard(nocauteado em 1997), Roberto “Manos de Piedra” Durán (derrotado duas vezes por pontos), Julio César Chávez (que lhe tomou o cinturão dos superpenas), Felix “Tito” Trinidad, “Golden Boy” Oscar de la Hoya (ambos o venceram na disputa do cinturão dos meio-médios), Vinny Pazienza, além do saudoso Edwin “El Chapo” Rosario, considerado um dos maiores pegadores da história pela Ring Magazine.
Camacho encerrou as carreiras de Leonard e Durán.
De La Hoya penou para vencê-lo numa época em que vinha de vitórias maiúsculas sobre Chávez e Pernell Whitaker, dois dos maiores de todos os tempos.
O próprio Chávez fez a melhor atuação de sua estelar carreira exatamente contra Camacho – e não o nocauteou.
“Tito” Trinidad o enfrentou já depois do seu (de Camacho) auge.
Mesmo com 19 nocautes em 22 lutas nas costas, Tito, dono de um dos mais perfeitos ganchos de esquerda da história, também não o nocauteou.
Para se ter uma ideia da dimensão do que representou Héctor Macho Camacho, podemos lembrar que ele era o melhor amigo que o mexicano Chávez fez no mundo do boxe.
Detalhe: México e Porto Rico estão para o boxe assim como Brasil e Argentina para o futebol, Nova Zelândia e Austrália para o rúgbi e França e Inglaterra para a vida.
Oscar de la Hoya:
“Ele era muito difícil de ser atingido porque tinha um grande jogo de pernas, ótima movimentação e era muito rápido. Aprendi muito lutando com ele. Ele me fez ter paciência. O nocaute nem sempre vem. Ele me ensinou a importância de encaixar corretamente meus socos. Cresci muito como lutador depois que o enfrentei.”
Camacho deixa um legado de quatro títulos mundiais conquistados como superpena, leve e superleve pelo Conselho Mundial de Boxe e Organização Mundial de Boxe. Ele foi o primeiro homem a vencer lutas em sete categorias de peso diferentes. Ele se aposentou em 2010, aos 48 anos, com cartel profissional de 79 vitórias (38 por nocaute),
6 derrotas (jamais foi nocauteado) e três empates.

Nem tudo eram flores na vida de Macho Camacho

O lado controverso de Macho Camacho apareceu também inúmeras vezes.
Ele foi preso em 2005 acusado de assaltar uma joalheria no estado americano do Mississipi estando com posse de ecstasy.
Héctor foi sentenciado a sete anos de cadeia, mas um juiz posteriormente alterou a pena para um ano.
No começo deste ano, Camacho respondeu processo de abuso infantil contra seu filho mais novo, acusado de tê-lo erguido pelo pescoço, arremessado-o ao chão e pisado no menino.
Ele pagou multa de 5 mil dólares e foi liberado.
Delitos menores como bater num carro de uma mulher e fugir, arrumar confusão num shopping depois de perder o bilhete do estacionamento e brigar numa loja de computadores sob efeito de álcool fazem parte da biografia de Macho Camacho.
Na cena do crime que resultou em sua morte, a polícia de San Juan encontrou nove papelotes de cocaína no bolso de Mokica Moreno e um décimo aberto, do lado do motorista, dentro do carro.

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